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A Guerra Dos Leões - Capitulo Um

Info

          Eram quase oito horas da noite quando aconteceu. O navio cargueiro O Tridente rasgava as ondas do mar de Lusca em direção ao seu destino final. Sua tripulação bebia e se banqueteava ao som de gaitas de fole e liras. Comemoravam sob um céu estrelado em agradecimento a mais um dia proveitoso. Tinham se acostumado a agradecer a cada dia, após terem de enfrentar algumas das maiores tribulações. Era na espuma da cerveja que os homens encontravam consolo durante a viagem, porém só pensavam nas medalhas e títulos de nobreza que receberiam quando chegassem à Alexandria. Seriam heróis, sem sombra de dúvida. Afinal de contas, não era sobre ser heroico que se tratava essa viajem? Estavam voltando para casa, trazendo o que poderia ser a arma definitiva que terminaria uma guerra. A guerra dos leões, como estavam chamando, havia começado dois anos antes. Quando o reinado de Argo declarou guerra a grande e fortificada Alexandria. Pensaram logo que Alexandria a riscaria do mapa, contudo, não foi isso que aconteceu. Argo tinha algumas cartas na manga e conseguiu resistir firme por todo esse tempo. A tripulação levava para Alexandria o que poderia ser a maior das reviravoltas nessa guerra emergente.

       Alexandria desde sempre fora o maior reino do continente, tinha uma política de extrema diplomacia para com os outros reinos, uma economia fortificada e um exercito bem equipado. Governada por um rei pacífico, o rei Leônidas, que havia ascendido ao trono após a morte de seu pai. Alexandria era respeitada em cada canto do continente, não só pelo coração de seus habitantes, mas também pelos corações dos habitantes de outros reinos... Mas não todos.

       Uma cidade tão nova em relação as outras tantas do continente que poderiam chamá-la de recém nascida. Argo era um projeto ambicioso, um reino erguido para subjugar todos os outros. Ninguém deu atenção quando um grupo de grandes burgueses, artesãos, soldados de altas patentes e pensadores deixou suas cidades para erguer, como eles mesmos chamavam, A capital do novo mundo. Todos seguiam a ambição de um homem, que com seu discurso fazia-os acreditar que poderiam construir um mundo onde todos seriam como nobres. Esse homem se auto intitulava, O príncipe do novo mundo.

        Apenas três dias de viagem separavam a tripulação de casa. A ansiedade de todos era notória e só diminuía nas rodas de conversa, onde as dúzias de homens falavam sobre os mais variados assuntos. Política, navios, modelos de espadas, mulheres e o que mais pudessem decidir discutir, mas nada tinha sido tão central nas rodas de conversa do que aquele baú. Havia sido o motivo da viagem até as Ilhas de fogo, onde estava guardada a salvo em um santuário. Era um pequeno baú de madeira, adornado por figuras de animas moldadas em metal, pedras preciosas estavam dispostas em ordem ao redor da peça. Não havia uma tranca para chave, ao invés disso uma pequena placa de bronze com ranhuras protegia o interior do baú de qualquer violação. Era pequeno e podia ser facilmente carregado por qualquer pessoa, adulto ou criança, dado o pouco peso.

       Toda a tripulação se punha a pensar com curiosidade como aquele ínfimo objeto viria a ser a arma secreta para o fim da guerra, mas não cabia a eles indagarem nada, só a seu superior, Sir. Blake, que em cuja cabine estava o baú.

       Sir. Blake tinha uma aparência comum. Era alto, tinha um corpo forte, mas não em demasia, possuía cabelos e olhos castanhos e uma barba cheia, igualmente castanha. Não aparentava ser velho, mas carregava um ar de respeito consigo.

       Ele estava jogado em uma poltrona gasta com uma fotografia em preto e branco nas mãos. Um jovem casal e duas crianças o encaravam de volta na fotografia. Havia uma jovem mulher loira que sorria com uma menina junto de si e um homem que era claramente Sir. Blake mais novo. O homem da foto abraçava afetuosamente a um menino que se assemelhava de forma espantosa a ele, nos cabelos, olhos e expressões. Sir. Blake não pôde evitar as lágrimas salgadas que enchiam seus olhos, olhar sua família sempre causava esse efeito nele. A beleza de sua esposa e o sorriso de seus filhos demoliam todos os muros da fortaleza que ele era. Pôs a mão por dentro da camisa e puxou um medalhão de prata que estava preso ao seu pescoço por uma fina corrente. Numa face havia a figura de uma águia dourada, com as asas abertas, pronta para alçar o próximo voo. Na outra face o nome Oliver Blake em letras nada cursivas estava escrito em ouro sobre o metal. O homem levou o medalhão até seus lábios e o beijou, mantendo-o junto a seu rosto. Segurava a peça com força, como se aquela águia fosse tomar vida e voar para longe, levando suas preciosas memórias que o ainda ligavam a sua família.

         Sir. Blake pôs a fotografia no bolso de seu casaco e seu medalhão por dentro da camisa, levantou-se da poltrona e passou a andar de um lado para o outro em sua cabine, absorto em pensamentos. Começava a se arrepender por não ter ficado para beber com a tripulação, como o haviam pedido que ficasse.

         Sua cabine era bastante confortável, toda de madeira e decorada por mobília cara. Nas paredes, estantes cheias de livros dividiam espaço com quadros de paisagens em tons pastéis pintadas a tinta a óleo. Esculturas, vasos e adornos feitos de materiais nobres estavam bem dispostas no cômodo. No centro da cabine havia uma escrivaninha, o baú repousava sobre ela. A esquerda uma janela estava aberta, dando vista para o mar calmo. Na parede oposta a janela um grande mapa estava pregado à parede. Haviam várias linhas desenhadas no mapa, traçando rotas entre pontos marcados. Umas três ou quatro cartas estavam presas ao mapa, assim como algumas fotografias. Em uma das extremidades do cômodo estava a cama de Sir. Blake, forrada com lençóis de linho branco. Sobre a cama repousava a espada de Sir. Blake. Desembainhada pois estava sendo polida a pouco, na empunhadura havia uma pequena águia dourada.

         Sir. Blake foi retirado de sua meditação por batidas na porta de sua cabine. Deveria ser algo urgente, dada a força com que haviam castigado a madeira.

         -Entre!- disse Blake

         A porta abriu-se e por ela entrou um homem baixo e barrigudo, vestia calças escuras, botas de cano longo e um casaco vermelho com detalhes dourados, um pequeno peixe espada de metal estava preso a lapela de seu casaco. O homem deu uma olhada por toda a cabine depois fixou os olhos em Sir. Blake.

-Oliver, poderia vir aqui fora um momento? Tem algo que eu gostaria que você visse.- falou o capitão apontando para fora da cabine, em seguida saiu apressado pela porta.

       Sir. Blake foi até sua cama, pegou sua espada e a pôs de volta na bainha, prendeu-a no cinto e saiu de sua cabine. Dirigiu-se ao convés onde encontrou os marinheiros reunidos em silêncio a estibordo do navio, encarando o horizonte. Suas bebidas foram largadas de lado, não havia mais música em seus instrumentos e toda conversa transformara-se num agourento silêncio. Blake correu ate a amurada para ver melhor o que tanto havia prendido a atenção dos marinheiros. Era como uma nuvem de tempestade, extensa e negra como piche, vinha ao encontro do navio com grande velocidade. O mais incomum era o fato de a nuvem não estar no céu, mas sobre a água, flutuando a poucos centímetros da superfície. Era uma névoa fantasmagórica que vinha na direção deles, uma névoa de morte.

      -Preparem os canhões. Homens, peguem suas armas e alguém lance um sinal de alerta, rápido!- bradou Sir. Blake para os homens ao redor.

       Houve muita agitação no convés, homens correram para os canhões, outros desembainharam espadas e sabres e ainda outros puxaram poções incendiárias dos bolsos. No meio das preparações para o ataque um dos marinheiros perguntou:

       -Para quê os canhões e o sinal de alerta? Vamos atacar a neblina por acaso?

       -Não, homem estúpido, atacaremos o que a neblina está escondendo.- disse Blake furioso.

       Enquanto Sir. Blake falava um navio saiu do meio da névoa escura, seguido de outros. A esquadra de navios inimigos era formada por embarcações um tanto menores que O tridente, contudo, seu maior diferencial era o material de que eram feitos. Toda a esquadra inimiga era composta de navios de metal, ao passo que O tridente era feito de madeira, como os navios convencionais. Os canhões do O tridente atiraram contra a esquadra inimiga, mas as balas não surtiram efeito contra a espeça cobertura de metal dos navios. Quando estavam perto o bastante catapultas dos navios inimigos atiraram várias correntes com ganchos na pontas, que se prenderam a amurada do navio cargueiro. Homens encapuzados correram com uma espantosa agilidade pelas correntes até o navio, vestiam preto e carregavam enormes lanças consigo. Invadiram o convés do navio e começaram a confrontar-se com a tripulação. Pra onde se olhasse haviam pessoas brigando, espadas contra lanças, poções incendiárias voavam pelos ares e explodiam em calor sulfuroso. Haviam pessoas que mesmo desarmadas brigavam com as próprias mãos, aos socos.

        O capitão do navio, que já havia derrotado três invasores com seu sabre, pôs a mão livre em um dos bolsos do casaco e puxou uma medalha de formato redondo com um rubi no meio. Pôs o polegar no rubi e apertou-o por alguns segundos, em seguida levantou o braço para o alto e do centro da medalha faíscas vermelhas jorraram até o céu, explodindo em uma nova infinidade de faíscas. Agora tudo era vermelho, iluminado pelo brilho do sinal de alerta, as embarcações, a tripulação, e o mar que agora parecia sangue fresco.

        -Blake, o sinal de alerta já foi enviado.- disse o capitão guardando a medalha de volta em seu bolso.

         Sir. Blake desviou da lança de um invasor que houvera sido investida contra ele e que agora estava presa em um barril próximo. Ele socou o rosto de seu atacante, lançando-o inconsciente no chão.

         -Excelente, agora temos de resistir e torcer para que alguém tenha visto o sinal e venha ajudar...- Sir. Blake se interrompeu ao ver a cena que acontecia poucos metros a sua frente. Ele não podia acreditar. Toda a sua esperança havia se afogado em desespero.

         De um dos navios metálicos da esquadra inimiga uma rampa havia sido erguida e por essa rampa subiam a bordo duas pessoas também encapuzadas. Não carregavam lanças, ao invés disso, um deles empunhava uma grande foice de prata com uma lâmina de ouro maciço. O outro tinha um cetro de ouro nas mãos. Eram dois assassinos iluminados em vermelho vivo.

-Prometeu e Pandora!- exclamou Sir. Blake com a voz assustada de quem vira um fantasma, ou quem sabe até dois.

        Sir. Blake chutou um dos invasores que estava no seu caminho e correu em direção a sua cabine. Tinha de ser rápido, pois não demoraria para um dos dois recém chegados perceberem que ele não estava lutando no convés e logo deduzisse que ele estivesse protegendo a preciosa carga. Ele entrou em sua cabine, trancou a porta e correu para sua escrivaninha onde estava o baú. Abriu uma gaveta e de dentro dela pegou uma pena, um vidro de tinta e três pequenas esferas cinzentas de cerâmica. Puxou o baú para mais perto e com a ponta de sua espada fez um corte na palma de sua mão esquerda, pôs a mão sangrando sobre a placa de bronze na tampa do baú e retirou rapidamente. Enquanto amarrava um lenço em sua mão ferida Sr. Blake observava as manchas de sangue sendo absorvidas pelas ranhuras na placa . Durante alguns segundos o baú fez sons metálicos de "tique" e "clique" depois a tampa se abriu, revelando o conteúdo do baú.

         Era um livro velho e surrado com uma capa preta arranhada e desgastada pelo tempo. Sir. Blake pegou o livro e o abriu em uma página qualquer, molhou a ponta da pena na tinta e escreveu algumas linhas em uma das páginas. Estava nervoso demais para arrumar as ideias em sua mente, mas torcia para que o que havia escrito fizesse sentido para quem lesse. Tentava ser rápido, contudo seu tempo havia acabado.

         Sir. Blake ouviu o barulho de alguém forçando a maçaneta da porta, do lado de fora da cabine. Ele virou-se para encarar a porta e escutou o som de leves pancadas no assoalho, como se uma vara de madeira batesse no chão. Após três batidas uma fortíssima e brilhante luz branca entrou na cabine pelo buraco da fechadura e a porta abriu-se violentamente. Uma das duas pessoas que subiram a bordo entrou na cabine, a que trazia o cetro consigo. Ela descobriu o capuz que tinha sobre a cabeça e revelou-se.

       Uma mulher. De cabelos escuros e pele clara, olhos verdes como esmeraldas e uma expressão dura no rosto. Seu cetro de ouro tinha a figura de uma mulher com asas segurando um orbe de cristal, argolas também feitas de ouro decoravam a peça. Sir. Blake já havia visto aquele rosto muitas vezes, mas sempre se impressionava com sua beleza. Mas toda a beleza daquele rosto não escondia o perigo real que aquela jovem mulher proporcionava para Blake.

       -Boa noite, Blake.- disse a recém chegada, em um tom calmo e ducado. -Vejo que encontramo-nos novamente.

       -A que devo a ilustríssima honra de sua visita, Pandora?- Blake perguntou, já sabendo a resposta.

       Pandora fixou o olhar no livro que estava nas mãos de Blake, como uma leoa faminta que avista um jovem e indefeso gnu na savana.

       -Vim buscar algo que pertence a meu senhor.

       -Seu senhor? Interessante, não vejo o nome do seu senhor escrito em lugar algum aqui.- zombou Blake, balançando o livro no ar.

       -Então era mesmo verdade. Todos os boatos estavam corretos, o livro existe mesmo. Entregue-o para mim.- falou ela, estendendo a mão livre.

       -Você e seu amigo também estavam atrás dele? Aposto que nos seguiram todo esse tempo até as Ilhas de fogo e depois de volta para Alexandria. Não é mesmo?

       -Exato.- respondeu ela.

       -Me pergunto como conseguiram me encontrar, mesmo eu tendo ocultado minha aura desde a saída de Alexandria.

       -Não subestime nossos espiões, Blake. Tenha em mente que nem todas as pessoas estão engajadas para que Alexandria vença essa guerra.- disse ela, agora com um cínico sorriso no canto dos lábios.

       -Se você, seu amigo e tripulação são assim tão sobrenaturalmente capazes, por quê não foram buscar vocês mesmos o livro?- perguntou Blake, tentando ganhar tempo para pensar em alguma forma de escapar.

       -Por quê pergunta coisas das quais já sabe a resposta?- disse ela, em seguida apontou para o baú aberto sobre a escrivaninha. - Essa é uma arca parental, só seu sangue, ou de alguém de sua família poderia abrir a tranca. Pensamos em te matar e usar seu próprio sangue, já que você escondeu de todos o paradeiro da sua família, mas como vejo que você já abriu-a para nós, acredito que não seja mais necessário.

      -Então não vão mais me matar?- zombou Blake.

      -Claro que ainda vamos te matar. Prometeu ficaria desapontado se não fizéssemos isso- sorriu ela, divertindo-se.

       Blake olhou de relance para a janela da cabine, aquela era sua única saída, mas ele precisava distrair Pandora de algum modo. Se ele tentasse fugir agora ou ao menos desse a entender que pensava em fugir ela poderia fazer algo contra ele. Explodi-lo, paralisa-lo, congela-lo, criar uma barreira na janela... Havia uma infinidade de opções para ela, e nenhuma a favor dele. Tinha de ser cuidadoso em suas atitudes. Blake podia ouvir o barulho de luta no convés diminuir, um dos lados estava ganhando e infelizmente ele sabia que não era o seu. Principalmente agora que o portador da foice prateada estava lá em cima, reforçando o lado adversário.

       -Eu sei o que vocês estão tramando. Sei que pretendem ir para Arcádia, tentar assumir o controle da cidade e roubar seus tesouros.- falou Blake tentando distraí-la.

       -Ora, cale-se. Me entregue o livro agora ou você prefere que Prometeu venha aqui e tire-o de você a força?

       -Acha mesmo que eu vou te entregar ele assim tão facilmente?- respondeu Sir. Blake, agora mudando sua posição. Pôs o braço com o livro junto do corpo e o outro, que segurava a espada e as esferas de cerâmica a frente do corpo.

       -Venha. Tenho um veneno poderoso comigo. Sua morte seria rápida e indolor, melhor do que ser partido em pedaços por Prometeu.- continuou a moça.- Estou sendo generosa demais te dando essa opção, mais generosa do que você de fato merece.

       Sir. Blake não teve tempo de responder ou de ao menos pensar em uma resposta. Um grande estrondo encheu a cabine de barulho. A parede oposta a janela, onde estava o mapa pregado explodira com violência. Pedaços de madeira, papeis chamuscados e cinzas voavam sem direção, atiradas no ar pela explosão. Onde antes houvera uma parede agora havia um enorme buraco aberto. O outro encapuzado entrou na cabine pela abertura, segurava sua foice prateada. Ele retirou o capuz, mostrando seus cabelos loiros desgrenhados, um sorriso maníaco nos lábios e olhos vestidos de fúria.

       -Prometeu, estávamos mesmo falando sobre você a pouco. Era realmente necessário destruir metade da cabine apenas para poder entrar?- perguntou Pandora com ironia.

        -Não me critique e não seja exagerada.- respondeu ele de forma seca. Apontou para Blake com sua foice e continuou.- Ainda não pegou o livro, Pandora? Te permiti vir na frente, mas não esperava que você fosse ser tão omissa com suas obrigações.

        -Não estive sendo omissa. Estava tentando convencê-lo a me entregar o livro e morrer em seguida, mas pelo que parece, ele prefere partir desse mundo por suas mãos.

        Prometeu olhou de Blake para Pandora e de volta para Blake. Seu sorriso abriu-se e seu rosto agora era uma máscara de insanidade.

        -Verdade? Que adorável. Não é comum que alguém me tenha como preferência, geralmente as pessoas fazem qualquer coisa para não se encontrarem comigo.- disse ele, pondo a maior quantidade possível de cinismo em suas palavras.

        Sir. Blake amaldiçoou a si mesmo por ter perdido uma excelente oportunidade de ter fugido. Se tivesse se jogado pela janela durante a explosão teria escapado da dupla, mas ele não ficou seu culpando, fora pego de surpresa e não havia como ter pensado em nada durante aqueles poucos segundos de distração. Sua mente já havia começado a trabalhar em um novo plano de fuga e talvez o fato de agora serem dois carrascos contra ele acabasse virando a balança a seu favor. Blake já conhecia o temperamento dos dois, sabia que sua melhor chance seria por um contra o outro. Qualquer outra atitude, desde tentar fugir ou lutar seria o mesmo que suicídio.

        -Pensei que estivéssemos em um cessar fogo. Por quê tanta violência?- disse Blake.

        -Cessar fogo é apenas pros civis e você não é civil a muito tempo, seu verme.- respondeu Prometeu.

        -Eu estava mesmo esperando por meus dois velhos amigos. Vocês continuam os mesmos.

        -O que você quer dizer com isso, Blake?- perguntou Pandora. Uma de suas sobrancelhas levantadas em dúvida.

        -Aposto que Prometeu ainda continua com sua velha mania de torturar as pessoas só por diversão. Não é mesmo?

        -Claro que sim. Ele não muda seus maus modos.

        -Fique quieta!- rosnou Prometeu a Pandora.- O que me diverte não é da sua conta, Blake.

        Prometeu agora estava furioso. Odiava críticas e ser diminuído, duas coisas que Blake estava muito disposto a fazer naquele momento.

        -Deve ter sido horrível para você, Pandora, ter que segura-lo em seu navio de tocaia enquanto eu e minha tripulação estávamos recuperando o livro nas Ilhas de fogo. Visto que ele certamente queria invadir a ilha e destruir tudo o que estivesse no caminho.

        -De fato. Foi um tanto trabalhoso convencê-lo a ficar no navio e esperar.- respondeu Pandora. Ela pôs a mão nos cabelos escuros e sorriu de leve, num gesto involuntário de relaxamento. Blake não deixou de perceber essa atitude como uma leve mudança de humor. Para ela, cuidar de Prometeu não tinha nada de difícil, ela gostava até.

         Prometeu já não mais sorria, sua cara estava fechada em desgosto. O maxilar duro de tensão e os olhos brilhando de ódio.

         -Então você continua cuidando dele? Como se ele fosse seu bebê ou melhor... seu cãozinho.- falou Blake.

         Pandora começou a gargalhar e em seguida cobriu a boca com sua mão livre, após perceber a besteira que acabara de fazer.

         -NÃO RIA DE MIM!- gritou Prometeu à Pandora, apontando sua foice contra ela.

         -Não grite comigo e não aponte essa coisa na minha direção.- respondeu ela, protegendo-se com seu cetro.

         Era essa a oportunidade que Blake estava esperando, seus dois algozes estavam distraídos e suas armas apontadas uma contra a outra. Era agora ou nunca mais. Blake apertou o livro em sua mão e atirou no piso as esferas de cerâmica que estavam em sua outra mão. Uma densa nuvem de fumaça escura preencheu a cabine rapidamente. Blake embainhou sua espada de volta, prendendo-a em seu cinto, correu até a janela da cabine e se atirou no mar salgado. Pandora ergueu seu cetro e com ele fez movimentos circulares no ar. Do orbe no cetro surgiu uma poderosa lufada de vento que dissipou a fumaça para fora da cabine. Prometeu e Pandora correram pelos destroços da cabine até a janela, olharam para baixo e procuraram em vão algum sinal de Blake.

         -Depressa, mande os homens começarem uma busca no perímetro. Que encontrem alguma coisa, o livro, o corpo, qualquer coisa.- disse Pandora, pondo a mão na testa com decepção.

         -Acha mesmo que vamos encontrar algo?- perguntou Prometeu.

         Pandora balançou a cabeça negativamente. Prometeu ficou em silencio, virou-se em direção a porta, pronto para sair da cabine, mas Pandora segurou seu braço impedindo-o.

         -Ele não vai nos perdoar por isso, não é mesmo?- perguntou ela, desolada.

         -Você ainda duvida? Não, ele não vai nos perdoar.

         Prometeu inspirou forte e saiu da cabine. 





Continua no capítulo dois

 Herança de família 


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A Guerra Dos Leões - Capitulo Um

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Published on July 25, 2014

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